O projeto do Ricardo Pistola requeria uma colaboração devido à escassez de tempo e à dimensão do mural. Foi então que me sugeriram participar na elaboração dessa mesma pintura, pelo que fico muito grato pela experiência. Desde o primeiro dia que eu e o Ricardo criamos uma proximidade de ideias o que nos permitiu criar uma certa afinidade, necessária ao sucesso da obra.

Alberto Rodrigues Marques e Ricardo Pistola. Fase inicial da intervenção. Fotografia: Helena Mendes Pereira.

Ele é uma pessoa simples sem grandes complexos, muito disponível e que gosta de fazer os outros sentirem-se bem. A conversa do Ricardo é direcionada para uma bagagem cultural e artística expansiva. Desde cedo delegou grande confiança na minha ajuda e deixou-me à vontade com uma preocupação que eu revelava em relação ao erro. Mostrou sempre um interesse em auto superar-se, sendo que este mural é o seu trabalho de maiores dimensões e não há dúvidas de que ficou algo muito bem executado e com grande qualidade.

Desde o transporte das latas de tinta, ao desenho primário com fio norte, à aplicação da cor, foram seis dias de muita aprendizagem e de bons momentos. Obviamente todos temos maneiras de fazer diferentes, e as maneiras do Ricardo, são extremamente úteis e práticas. Sem querer, o Ricardo fez crescer em mim mais confiança e mais ambição. A motivação que sinto no final deste trabalho é grande e só é possível devido à sua solidariedade e respeito.

Nunca me foi difícil estar a fazer um projeto que não era meu, nem criticar algo que faria diferente. Difícil foi sempre dar o meu melhor e apresentar uma solução para aquilo com que discordasse. A liberdade é algo que se adquire com o tempo, e com ela virá também a credibilidade. Eu acreditei desde início neste trabalho e gostei dele e isso foram dois requisitos essenciais à minha disponibilidade para me formar com ele.

Creio, acima de tudo, ter feito um amigo e ter conhecido um trabalho espetacular. Gostaria de poder colaborar novamente com o Ricardo e desenvolver outros projetos mais arrojados. O desafio põe-nos mais alerta, tira-nos da zona de conforto e catapulta-nos para o que queremos ser.

Intervenção artística finalizada. Fotografia: Wapa.

O trabalho deste artista plástico faz referência aos materiais, ou melhor, tenta apresentar um material pelas suas capacidades físicas, afirmando-se pelas suas capacidades de saturação, opacidade e transparência. É um trabalho de caráter abstrato e experimental.

No contexto do skate park, a imagem faz referências às formas das rampas e dos movimentos que estas fazem os skaters percorrerem. A construção espacial focou-se na profundidade: desconstruir uma ideia de rampa e de percurso, para criar esse espaço imaginário onde se poderia andar de patins, bicicleta, skate, etc.

As rampas, o quarter, a spain, a pool e os corrimões são variados elementos onde aquele que vai usar o espaço pode escolher por onde ir. Ao mesmo tempo que o mural pode ser percorrido da esquerda para a direita ou vice-versa, de dentro para fora e novamente para dentro. Não há uma regra de como percorrer aquele espaço, há uma vontade de o percorrer com um imaginário.

A intervenção artística e o Skate Park. Fotografia: Wapa.

Do ponto de vista compositivo, a pintura encontra-se descentrada. Os beges das maiores peças acentuam a profundidade utilizando duas tonalidades diferentes, uma clara e outra escura, onde a luminosidade real não faz sentido. As peças contêm em si luminosidades inversas, o que nos empurra para um centro desviado onde se pode iniciar o tal percurso; percurso que é acentuado pelos braços verdes com o complementar cor-de-laranja a acompanhar, como se este fosse o agente que percorre.

Concluindo, temos um site specific onde aquele que se irá projetar não terá medos nem receios de uma queda mais dolorosa. Os voos serão altos e longos, as manobras arrojadas e bem executadas, os percursos, esses, serão à escolha.

AlbertoRodriguesMarques
Assistente de Curadoria

 

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