Elizabeth Leite nasceu em Caracas, na Venezuela, a 21 de Janeiro de 1982 e reside em Oliveira de Azeméis, Portugal, desde 1989. Concluiu, em 2005, a Licenciatura em Pintura na ARCA | EUAC (Escola Universitária das Artes de Coimbra) e, em 2006, frequentou o Mestrado em Comunicação Estética na mesma instituição, tendo concluído a pós-graduação com 17 valores. Frequentou ainda o Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3º Ciclo do Ensino Secundário, ministrado entre a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. A partir de 2006, acumulou o exercício da docência com a pintura. Atualmente dedica-se a 100% à sua atividade artística. Correu o risco. É uma valente. Um exemplo de resiliência e força de vontade.

Ao longo dos últimos anos, a obra plástica de Elizabeth Leite tem sido merecedora de prémios e menções e despertado interesse, tanto por parte de um segmento mais especializado, como do público em geral. Expõe, individual e coletivamente, com regularidade e o seu trabalho é aposta de galerias e instituições culturais. Os galões de Elizabeth Leite são factuais e o seu currículo fala por si.

A contingência desta mostra de desenho e pintura no Hotel Meira, em Vila Praia de Âncora, para a qual converge a necessidade, por motivos expositivos, de as obras escolhidas não se expandirem da altura de um metro, não está relacionada com a relação idiossincrática da paleta à beira mar com a palete dominante (e dominada) de Elizabeth Leite. Não. Era um desígnio antigo de apostar na divulgação e disseminação da obra desta extraordinária artista que nos mostra o mundo em pinceladas tendencialmente gestuais, combinadas com desenhos de anatomias perfeitas, rostos de expressões ultra comunicantes e composições globais que a tela interrompe, mas que continuam para lá, não na imaginação, mas na real cena narrada aos nossos olhos pela batuta do pincel e pelo ritmo da tinta.

A pintura de Elizabeth Leite é prodigiosa e visceral. Como se combina, em matéria pictórica, o prodígio e a víscera? Combina-se no espaço silencioso que as suas estórias e memórias vão interromper com conversas (des)organizadas de personagens estranhamente próximas dos nossos próprios universos infantis, familiares, emocionais. Elizabeth Leite pinta uma temática que tem como referencial a casa, o quotidiano, com variações que partem de confrontos com o real cruel e humano a que não fica indiferente. São irrefutáveis as referências e influências que colhe de Paula Rego (n.1935), não só pela transnarratividade, como também pelas séries que partem de contos e ditos, histórias e memórias, tendo como base a domesticidade da vida e funcionando como alerta das pequenas coisas que revelam, e reforçam, uma herança cultural conservadora que somos incapazes de combater. Ainda assim, excluindo a manipulação de escala, Elizabeth Leite tem da vida uma perspetiva positiva e resolvida. É isso que nos apresenta.

No palco improvável do Hotel Meira mostram-se desenhos (inéditos alguns) e pinturas (tudo à razão de um metro), vivos de personagens que se juntarão aos hóspedes e lhes trarão a dimensão do mundo real ao veraneio da fuga.

A verdade é que todos nos revemos nas estórias desta artista que, enquadrada num neoexpressionismo de raiz inglesa com reminiscências cenográficas rurais, é, acima de tudo, na sua paleta de cores vibrantes, o espelho de uma alma antiga, resiliente e sonhadora.

Helena Mendes Pereira

curadora da shairart

Comments

comments