Uma convergência poética torna-se ficção e cosmogonia. E manifesta-se num vídeo circular contínuo. Que regista o nascimento de uma linha de luz que atravessa a varanda da minha casa. Como se houvesse ali um objeto estelar invisível a realizar o seu ciclo orbital secreto.
Alinhado com o rito das horas na torre da Igreja de São Vicente. Que acontece mesmo ao lado. E ficou suspenso no tempo como os relógios em casa de José Saramago e Pilar del Río. São eventos assombrosos como este que ligam as cinco personagens de Jangada de Pedra. Este trabalho acrescenta uma transfiguração luminosa aos prodígios que emergem do livro. E pretende criar um entrelaçamento com o fenómeno testemunhado por Joana Carda. O risco que fende o chão e que não fecha. Feito com uma vara de negrilho com poderes de renascimento. Conjugado com a pedra redonda que Saramago recolhe na ilha. E que ficou guardada até hoje. Fui também buscar uma pedra. É ela que se transforma. É ela que ganha vida para trazer de volta a luz