ENTREVISTA À VEREADORA DA CULTURA DE GUIMARÃES, ADELINA PINTO

Residência Artística em Guimarães

Porquê a escolha desta escadaria e deste sítio, aqui na Plataforma das Artes, para integrar este projeto do AMAR O MINHO?

Nós estamos aqui de frente para a Plataforma das Artes e da Criatividade, onde temos o Centro Internacional de Artes José de Guimarães. E, portanto, este é o sítio das Artes Visuais por excelência. E aquilo que nós queríamos era promover também este espaço, alargar esta noção de cidade. Pegar em recantos que não são tão conhecidos e estão muitas vezes marginalizados, como acontecia com esta escadaria. E, de repente, olhamos para ela e foi uma paixão e percebemos que ia dar um novo contexto ao Centro Internacional de Artes José de Guimarães. E ia conseguir contextualizar-se com uma parte direcionada para as artes visuais e era ainda um desafio para a Mónica [Mindelis], que era fazer esta ponte de trazer as pessoas desde a avenida [Conde de Margaride] até ao Centro Internacional de Artes José de Guimarães.

Esta escadaria não era muito usada e este espaço também. Espera que agora com esta obra de arte pública isso possa mudar?

Eu vou confessar uma coisa publicamente. Eu sou vimaranense, tenho 56 anos, e acho que nunca passei nesta escadaria. Tinha a ideia de que havia aqui uma escada muito pequena, pensei até que era mais pequena. E como eu, há de certeza absoluta milhares de pessoas que passam nesta rua, nesta Avenida Conde de Margaride, que é uma artéria central da nossa cidade, e que não conhecem este espaço. E, portanto, a melhor forma de trazer as pessoas até aqui é este novo caminho que entra aqui para que seja utilizado e que esta arte nos convide a caminhar. Também porque somos uma cidade muito preocupada com o ambiente e, portanto, que este novo caminho depois de um confinamento seja um caminho pela arte e pela cultura, e um caminho de futuro.

O Município de Guimarães teve aqui uma missão importante na recuperação deste espaço público através da arte urbana. De que forma pensam aproveitar este espaço depois desta escadaria estar finalizada?

Isto vai enquadrar-se num contexto mais alargado de um bairro de criação, em que nós tentamos através da arte urbana criar alguns percursos pedonais que não são tão conhecidos das pessoas. E, portanto, começamos da melhor forma com chave d’Ouro, nesta artéria central onde ninguém imaginaria que temos aqui uma escada deste género, e assim convidando as pessoas e depois articulando com outros espaços. Este é um espaço de cultura, de arte, é um espaço em que vamos ter a Mónica aqui com este “Amanhecer” a convidar-nos a olhar para a arte de outra forma. E também com este edifício que é um dos nossos ex-libris da cidade e com o José de Guimarães aqui e com todo o trabalho que fazemos no domínio das artes visuais.

Portanto, enquadrar-se era a nossa preocupação, que isto não fosse algo externo à cidade, que não fosse algo que não se enquadrava com a cidade, mas que fosse algo que se ligasse. E acho que a Mónica conseguiu efetivamente fazer esta ligação connosco.

O resultado final está de acordo com aquilo que idealizaram?

Este foi apenas o começo, agora eu olho para o espaço envolvente e já precisamos de luz, precisamos, se calhar, de alguma vegetação, precisamos de cuidar do espaço envolvente. Mesmo esta praça, que é hoje uma praça que quase serve de acesso ao parque de estacionamento, vai ter de certeza absoluta uma nova dinâmica e vai obrigar-nos a requalificar e vai obrigar-nos a repensar este novo espaço. É de este acrescentar cidade, é deste desassossego, destes pontos que se vão dando, e que se vão acrescentando que se faz a construção de uma cidade que é Guimarães. Nunca está nada feito, está sempre uma parte feita e uma parte por fazer, mas acho que conseguimos aqui este caminho para um novo desafio que é irmos avançando e mostrar aos vimaranenses que afinal ainda há tantos sítios que eles precisam de ver.

Qual tem sido o feedback das pessoas?

As pessoas estão muito envolvidas. Tal como referi no início, também eu não valorizava estas escadas, nunca cá tinha passado. Isto acontece com maior parte das pessoas e, portanto, hoje, as pessoas estão absolutamente espantadas. Nós temos publicado no Facebook, têm aparecido imensas publicações mesmo de pessoas que passam na rua e, portanto, é muito interessante ver quantas pessoas valorizam.

Depois esta pintura em espaço público tem muita parte do processo. As pessoas foram passando, foram conversando com a nossa artista, foram percebendo o que é que ela ia entrelaçando nestas cores e neste entrelaçar industrial que ela tentou trazer para aqui. E foram percebendo estas dinâmicas e isto vai-nos construindo a cultura. Eu acredito que a cultura faz melhor de nós e este processo de quem viveu e o facto de a Mónica ter estado cá, aqui a pintar, a falar com as pessoas, a falar connosco. Fez de nós diferentes, fez de nós melhores e isso é um valor acrescentado para todos nós e para a cidade.

O que é e como é ser a Vereadora da Cultura de Guimarães?

É uma dor de cabeça [risos]. É um desafio constante, porque efetivamente é este desassossego, este querer mais, de cada passo que se dá há mais dois para dar, vamos duplicando. Quando não existia este espaço nunca olhávamos para esta praça. Hoje há este espaço, que já está feito, mas agora vamos ver a parte lateral, depois vamos ver a praça, e assim sucessivamente. Como é que nós fazemos e eu, enquanto vereadora da cultura, como é conseguimos que a cultura seja acessível a todos. A questão da equidade é absolutamente a minha palavra de ordem enquanto decisora política nesta área. E tudo o que é espaço público tem esta equidade, não há a barreira de uma porta que se entra.

Este museu [Centro Internacional de Artes José de Guimarães] é importantíssimo, mas tem uma barreira de uma porta e há muita gente que passa nesta rua e não entra nessa porta, ou porque acham que não devem ou porque não conhecem. E este é um espaço nosso, é um espaço de todos. As pessoas quando chegarem ao topo da rua e virem este “Amanhecer” vão ser convidadas a descer. E ao serem convidadas a descer vão ao longo da escada tentando percecionar o que é que a artista nos quis dizer. E depois vão encontrar este espaço de frente e, portanto, vão estar mais próximos de outro tipo de cultura. Este é o grande desafio que eu coloco a mim própria enquanto vereadora da cultura.

Comments

comments