A COUPLE OF STRUCTURING AND LIQUID THINGS

A Mar por André Rangel

Hav, Kai, Mоре, Meer, Mer, Sea, Deniz, Mare, Mope, Morze, Zee, Meri, Farraige, Tenger, Jūra, Mier, Maro, Meri, Morie, Moře, Dagat, Môr, Laut, Deti, Sami, Mare, Segara, Teku.

Mar, a prima mater. Mar é em Português uma palavra do género masculino, mas noutras línguas, como Alemão ou Francês é do feminino. Os desportos de deslize em ondas permitem uma relação muito íntima com a mar. Amar a mar é como amar uma mulher. Não se resiste à mar, quando se cai numa onda e se é embrulhado no turbilhão de água e espuma acontece uma entrega: relaxa-se,descontrai-se, medita-se, regressa-se à posição fetal, mas não se resiste. O tempo expande-se. Estar imerso num “espumão” — quando não se sabe para que lado está o fundo, a superfície, a praia ou o alto mar – assemelha-se a estar imerso no líquido amniótico, num útero. A mar, as ondas da mar, o ser-se embrulhado pela rebentação da mar é primordial, maternal e, portanto, feminino. Cair em mar está longe de se equiparar a cair em pedra. Mergulhar e imergir em mar é penetrar. Mas tam- bém ser recebido e tomado. A mar seduz, outras vezes rejeita. Mulheres há que lá dão à luz. A mar às vezes está chão, outras vezes, quando excita, tem balanço, e também embala.

Amor é mar e a mar é amor.

Em A Mar a ondulação – energia transportada pelo oceano – medida no ondógrafo ao largo do porto de Leixões, transmuta-se em movimento luminoso e sonoro. Os dados – altura máxima e período de pico –relativos à última leitura do ondógrafo mantido pelo Instituto Hidrográfico são obtidos a cada minuto através de uma API (Application Programming Interface) da APDL (Admi- nistração dos Portos do Douro e Leixões) e permitem calcular a energia das ondas que quebram na costa das praias do Porto e Matosinhos.

Um dispositivo de visualização original – constituído por 56 lâmpadas tubulares colocadas na ver- tical, de forma equidistante ao longo de uma parede com 15 metros de comprimento controlados por relés e por uma interface Arduino Nano instruído por computador ligado pela internet ao ondógrafo – apresenta a transmutação da energia das ondas em movimento de luz. O número de lâmpadas que constituem a mancha luminosa é diretamente proporcional à energia das ondas que quebram na costa atlântica. Esta mancha desloca-se da esquerda para a direita, a uma velocidade aproximada de 4m/s, mimetizando a direção Oeste para Este e a velocidade com que se desloca a energia transportada pelas ondas da mar. Dois osciladores de onda sonora combinados com ruído branco filtrado constroem a paisagem sonora de a mar.

A Mar celebra vida, amor e movimento. A mancha de luz em movimento em A Mar representa o nosso movimento: como passamos pela vida, como a vida passa por nós.

O autor agradece à Doutora Helena Fernandes da APDL por autorizar o acesso aos dados do ondógrafo, ao Engenheiro José Chambel Leitão por facilitar o acesso à API da hidromod, ao Surfista Marcello Mar- tins e ao Doutor Carlos Pinto pelos contactos telefónicos, à Doutora Verónica Metello pela revisão do escrito, ao Deus José Carlos Vilarinho pela mobilidade e à Arquiteta Anne-Kathrin Siegel pelo legado.

Parceiro da execução da obra:

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André Rangel

 

Conheça mais sobre a obra em https://zet.gallery/obra/a-mar-19750

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