“A COUPLE OF STRUCTURING AND LIQUID THINGS”

Acácio Viegas

Tudo é impermanente, yin que é a força expansiva dá origem a yang que é a força contrativa e yang dá origem a yin incessantemente.

Ao que parece, e seguindo esta lei que rege todas as coisas e que aprendi no estudo da Macrobiótica e que me vem servindo de farol na observação dos fenómenos, todas as estruturas falham mesmo as aparentemente mais perfeitas.

Tudo, mais cedo a ou mais tarde se transforma no seu oposto complementar, tal como o dia dá ori- gem à noite, e este conhecimento pode trazer alguma inquietude amenizada pela aparente certeza de que existe um espírito que é eterno, sempre presente e que anima todas as coisas.

Ao incorporarmos esta verdade obtemos uma enorme sensação de liberdade que nos permite po- der soltar e acreditar que existe algo que sustenta tudo e nada vai desaparecer. Lavoisier disse “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” e ao dizer nada se cria, tudo se transforma, reconheço a criação espontânea de matéria e de vida. Nada se perde, pois o processo de transformação tem a ver com a forma como o interpretamos e isso não significa que algo desa- pareceu, é apenas um mecanismo da mente na busca de criar uma estrutura mental de estabilidade.

É certo que sem estrutura não há raízes e que se aplicarmos ou usarmos demasiada estrutura abafa- mos a magia e esta começa a diminuir. No entanto, se nos segurarmos à estrutura como se segura um papagaio de papel ao vento, podemos brincar com ela, soltar, puxar soltar, conduzir, ser conduzido.

É neste movimento, parecido a uma dança, que componho com círculos, curvas, linhas e cores, como uma criança que se deixa transportar pela magia, com controlo, mas conduzido também pelo espírito criador para permitir que o desconhecido se manifeste e, através dessa fusão, encontre o equilíbrio certo, aquele que vai ser cristalizado. Este processo é um constante exercício de expansão e contração, que nunca termina.

Criar uma obra de arte é para mim como a criação da vida, seguro-me frouxamente às estruturas fortes, mas deixo a porta aberta para que o vento do espírito possa brincar e deixar que a magia seja transferida, não por meio da certeza intelectual, que muitas vezes me pressiona, mas por meio do deleite sincero, diria de amor ao espírito criativo.

Parece-me que é através deste processo mágico que começo a viver como Eu mesmo, a compreen- der através da criação, do desenho da escultura ou da pintura, o meu próprio Ser, a minha estrutura e a influência do vento (remete-me ao conceito de feng-shui).

Existem milhares de processos para que as pessoas possam viver sendo elas próprias, e este é ape- nas mais um, talvez o meu, mas acredito, porém, que ao ver os processos dos outros, ao contemplar uma obra de arte, algo faz despertar o nosso próprio processo, assim seja ela capaz de despoletar essa transformação.

Em cada obra existe uma entrega sem pretensão de obter um determinado resultado, mas de ver falhar as estruturas e os sistemas à espera que qualquer tipo de mudança aconteça, de aceder à consciência futura, uma espécie de iluminação ou autorrealização. A obra de arte não deve permitir que a energia mágica permaneça presa ou limitada à estrutura que a contém, mas sim de permitir a sua libertação.

Acácio Viegas

 

Conheça mais sobre as obras do Acácio Viegas em https://zet.gallery/artista/acacio-viegas-7026.

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