BÁRBARA E PÉSSIMO NA IGREJA DE FRAIÃO
Algumas das obras realizadas para o restauro da igreja antiga de Fraião foram um pretexto para inaugurar o atelier de cerâmica da Bárbara. A primeira tarefa foi sujá-lo, torná-lo oficina. Desse espaço novo faz parte uma peça cheia de história e significado: um torno de oleiro antigo, uma peça de arqueologia. O trabalho manual, o artesão, a aprendizagem, o suor, a olaria popular tradicional: de tudo isto está impregnado aquele torno. Muito barro, muito pão, foi amassado naquela peça. Ela guarda a memória do esforço, do trabalho, da invenção. O barro, o pão, a vida. Desde o gesto inaugural de Deus na criação que o barro se tornou símbolo da vida.
Começamos a trabalhar. Com máscara. Estes trabalhos foram feitos durante a pandemia. Também a presença da máscara tem um forte significado. Começámos a trabalhar nas peças para a capela. Fizemos a cena do Baptismo de Cristo e o S Tiago, o padroeiro da igreja. Foi importante a opção de trabalhar o barro sem artifícios, fazendo valer apenas a sua textura e a sua cor, sem vidrados, só a cor da terra. A Bárbara fez a investigação iconográfica. Foi um trabalho de equipa, de proximidade, apesar das máscaras.
Depois houve os vitrais. Foram feitos noutro espaço e noutro contexto. São três pequenos vitrais feitos na Provitral em Alvarelhos (Trofa). Foram feitos seguindo a técnica tradicional a chumbo com pintura de grisalha e esmalte. Representam a Santíssima Trindade: Deus Pai, colocado no espaço da assembleia; Jesus, o Filho, colocado junto ao altar; e o Espírito Santo, colocado no óculo da fachada principal.
Estes trabalhos para a igreja antiga juntam-se a outros feitos para a igreja nova. Logo na construção foi feito um painel cerâmico, em azulejo, representando a figura do padroeiro, S. Tiago. Agora foi feita uma Via-Sacra em 15 estações: a juntar às 14 tradicionais, juntou-se uma representando a Ressurreição de Cristo. Trata-se de pintura sobre tábuas de madeira de 120×90 cm, à excepção da cena da Ressurreição cujas medidas são ligeiramente diferentes.
Procurei criar uma gradação emocional ao longo das estações. Há um crescendo. As primeiras cenas são representadas com uma relativa calma, apesar da tragédia e da injustiça da condenação de Cristo. Depois, progressivamente, o dramatismo toma conta das cenas com o seu expoente na morte e na representação do corpo morto de Jesus no túmulo. Mas eu não queria acabar assim, com essa imagem tão negativa. Foi então que propus a pintura duma décima quinta cena representando a Ressurreição de Cristo: uma cena luminosa, em que o Cristo, todo envolvido por um manto vermelho, emerge da luz, como que caminhando no meio do fogo e comunicando esse fogo aos seus seguidores.
Alberto Péssimo