Conversas de atelier com João Abreu
João Abreu é um artista particularmente intrigante pela singularidade do trabalho que desenvolve. Fotografia, Desenho, Áudio, Escultura, Vídeo, Performance…. procura explorar, arrojadamente, todas as formas de transpor o sonoro para matéria visível!
Visitámos o estúdio do João, cuja projeção se tem vindo a materializar em variadas exposições coletivas e presenças em festivais de cinema, e conversámos sobre ele próprio, pois claro!
Qual o item indispensável no teu atelier?
Cada espaço, cada item, cada ferramenta é importante no processo de construção do meu trabalho. No entanto, existe um pequeno armário fechado, refugiado de todo o pó e serrim. É nele que guardo todo o material elétrico e sonoro que utilizo para as esculturas sonoras. Sendo a exploração sonora uma das ações mais importantes no meu trabalho, este armário é indispensável no meu atelier.
Qual o espaço dedicado a arte que ainda não tiveste oportunidade de visitar mas que queres muito conhecer?
MoMA…”New York, New York // I want to wake up in a city// That never sleeps.”
Que obra de arte gostavas de poder comprar?
Se pudesse, convidava o Bill Fontana a fazer uma obra no jardim de minha casa…
O que fazes quando estás criativamente bloqueado?
Geralmente recorro ao desenho ou à captação de som ambiente. Às vezes é das pequenas gravações aleatórias que crescem as minhas peças.
O programa ‘Youth in Action’ permitiu-te conhecer uma variedade de países e realidades sócio-culturais. De que forma é que esses intercâmbios influenciaram o teu trabalho?
Sem dúvida que conhecer novas culturas e novos países é muito importante para abrirmos um pouco a nossa perspetiva do mundo. Nestes programas eram discutidos todo o tipo de temas entre passeios, reuniões e formações. Além disso, as diferentes culturas têm diferentes sonoridades quotidianas.
Fotografia, Desenho, Áudio, Escultura, Vídeo, Performance…. Porque é que tens sentido necessidade de experimentar tantas vertentes artísticas, evitando concentrares esforços numa só?
No fundo o que procuro são as diferentes formas de tornar o som, matéria invisível, em matéria visível. A representação pode ser feita em qualquer tipo de suporte, material ou técnica. O objectivo é chegar à perfeição da representação e não do objecto representacional (a peça palpável).
Qual das variantes artísticas te dá mais gosto desenvolver?
Eu gosto de mexer com a matéria. Gosto de fazer pó, utilizar máquinas, cortar, partir, raspar. Consigo passar horas à volta de uma pequena caixa de madeira a tentar que ela fique lisa e suave ao toque. Perco tanto tempo na construção como no acabamento. No entanto esta atitude às vezes quase obsessiva não existe propositadamente. Mas acontece que há sempre algum pormenor que me leva mais tempo a concluir que todo o resto da peça.
Portugal é um bom país para artistas emergentes?
Portugal, e o Porto em particular, são bons locais para trabalhar. Há matéria-prima barata e as casas de materiais estão todas no centro da cidade, o que facilita a produção. As rendas são baixas e a cultura artística está em grande desenvolvimento. E hoje em dia, com a internet, é fácil estar atualizado e é possível estar em contacto com artistas de vários países. E, claro, o sol e a cerveja ajudam bastante…
Informações sobre o perfil de artista na shair aqui.