Criar para chocar: Arte de Intervenção

É certo que qualquer artista quer deixar a sua marca e, muitos deles, levam este objetivo bastante a sério (por vezes, até, ao extremo). Rapidamente o artista se apercebe que, quanto mais conseguir ser inesperado e chocar o espectador, mais facilmente deixa a sua marca e, mais importante ainda, mais eficazmente passa a sua mensagem.

Ao longo dos tempos, muitos foram os artistas que criaram para marcar uma posição, uma manifestação crítica acerca de alguma coisa. Muitas vezes, estas criações acontecem relativamente a um objeto artístico, a um público, a um espaço ou situação já existente. Podemos livremente afirmar que existe uma Arte de Intervenção, e que esta é normalmente associada à Performance (apesar de se poder manifestar de inúmeras outras formas, claro). Estas criações de intervenção podem estar ligadas a questões políticas ou sociais, ou surgir como forma de despertar discussão e chamar a atenção para um determinado assunto, que o assunto sente necessidade de ativar.

Marcar uma posição

O que é que se pode, então, fazer para deixar uma marca neste mundo de tantas expressões artísticas? Como primeiro exemplo, não poderíamos deixar de mencionar as Guerrilla Girls, um grupo anónimo feminista, que nasceu nos anos oitenta, composto por artistas que se dedicam a lutar contra o sexismo e racismo no mundo da arte. Este grupo tem vindo a marcar a história da arte, com os seus posters e panfletos com mensagens provocadoras e estatísticas escandalosas, mantendo a sua posição de luta pela igualdade de direitos na comunidade artística.

Créditos: http://www.abc.es/cultura/arte/20140101/abci-guerrilla-girls-bilbao-entrevista-201312291903.html

A Arte como ativismo não é nada de novo, e hoje em dia são inúmeros os artistas a utilizá-la como veículo de protesto e indignação sobre vários temas. Outro bom exemplo é a artista cubana Tania Bruguera, com a peça ‘Self Sabotage’, apresentada na 53ª Bienal de Veneza, em 2009. Durante a apresentação, Tania deu uma palestra na qual expressou os seus pensamentos acerca da arte política e o papel dos artistas na sociedade. Nada de mais, não fosse o facto de, repetidamente, se calar, apontar uma arma à cabeça e disparar. Previsivelmente, e tal como na maioria destes atitudes radicais, também a intervenção de Tania causou desconforto, tendo sido parada por membros do público e outros artistas. No entanto, ela continua a desenvolver os seus projectos e marca a sua posição através da arte.

Choque Emocional

Outro exemplo, um pouco mais poético e bastante recente, é a intervenção da artista luxemburguesa Deborah De Robertis no Museu D’Orsay em Paris. De Robertis sentou-se em frente à pintura de Gustave Courbet “A Origem do Mundo” e recriou a obra ao vivo. Esta performance não foi aceite da melhor forma, tendo dois seguranças do museu retirado a artista do local por desrespeito das regras do museu. A artista afirmou que esta peça, intitulada “Mirror of Origin”, representava aquilo que Courbet falhou em mostrar na sua pintura da origem do mundo, tendo ela demonstrado “aquilo que vai para além da carne, o infinito a origem da origem”.

Para terminar, e ainda numa linha poética e bastante emocional, falamos sobre a ação que teve lugar na DIA: Beacon, durante a retrospetiva de Carl Andre, em Março deste ano. Organizada por um grupo de artistas, ativistas e poetas feministas, esta ação consistia em andar pelo espaço da exposição a chorar, durante 20 minutos, para depois se juntar toda a gente numa só sala a chorar em uníssimo. A ação, intitulada “CRYING; A PROTEST”, foi criada em homenagem a Ana Mendieta, procurando assinalar a sua morte, ainda hoje controversa.

Créditos: http://hyperallergic.com/189315/crying-for-ana-mendieta-at-the-carl-andre-retrospective/

Bem ou mal, pelo menos falem

É interessante pensarmos nestas intervenções e na maneira como chocam o público, pois acabam por fazer pensar e despertar discussões entre as pessoas e os próprios media. Umas mais escandalosas que outras, mas, no fundo, aquilo que interessa é criar momentos artísticos e transmitir mensagens, emoções, ideias…

Enquanto plataforma de arte, a shair também participa no “despertar” cultural, tornando a arte acessível a todos, num espaço onde se encontram artistas, galeristas e amantes de arte.

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