Surveillance art: yey or ney?

Para muitos este poderá ser um termo novo… para outros, nem por isso. Usar sistemas de vigilância como forma de arte já não é exatamente uma novidade, tendo surgido como crítica ao aumento de vigilância imposto por alguns governos, e à tecnologia utilizada para o alcançar, especialmente no que toca à segurança pública e ao cumprimento de leis. Este tipo de arte pode concretizar-se de várias maneiras, quer através de pequenos vídeos, fotografia, arquitectura ou performance.

A questão que se levanta é até onde é que os artistas podem ir, em nome da arte, sem violar a privacidade das pessoas? Os próprios sistemas de vigilância já são vistos como uma coisa negativa, portanto será que podemos tirar partido deles?

Pedir emprestado um vizinho

Arne Svenson, fotógrafo de renome, foi recentemente processado pela sua última série ‘The Neighbours’. A série em questão contempla um conjunto de fotografias, com tons saturados, dos vizinhos de Svenson em situações do quotidiano, como ver televisão, comer, dormir uma sesta, etc. A família visada não ficou nada satisfeita por saber que existiam imagens suas a ser comercializadas como arte, e levou mesmo o fotógrafo a tribunal. Nesta situação, o artista não tinha qualquer intenção de ser evasivo, apenas querendo captar momentos humanos reais, sem identificar um ser em específico. Efetivamente, as fotografias mantêm os representados em anonimato, e só se soube quem estes eram quando surgiu uma notícia na impresa e os próprios se manifestaram.

Créditos: http://www.mutualart.com/OpenExternalArticle/When-Does-Surveillance-Art-Cross-The-Lin/B6C67E01214E0320

Créditos: http://www.mutualart.com/OpenExternalArticle/When-Does-Surveillance-Art-Cross-The-Lin/B6C67E01214E0320

Alguns artistas vão mais longe e utilizam mesmo câmaras de vigilância para desenvolver os seus trabalhos. ‘Nosy’ (2006), de Christian Moeller, consistiu numa câmara de vídeo instalada numa rua de Tokyo, que captava as pessoas que por lá passam e a paisagem envolvente, projetando depois as imagens em três torres cobertas por painéis de LED e vidro laminado.

Google encenado

Também a Google fez parte de uma performance através do ‘Google Street View’ quando, em 2008, os artistas Robin Hewlett e Ben Kinsley a convidaram a integrar o seu espetacular projeto. ‘Street with a View’ foi uma performance na qual a equipa do Google Inc. Street View e os residentes de Pittsburgh Northside foram convidados a colaborar numa série de momentos encenados, como um desfile, uma maratona, lutas de espadas do séc. XVII, bandas de garagem, um salvamento heróico, entre outros. Os técnicos do Google captaram estas imagens e integraram-nas na plataforma do Google Street View.

 Como escapar às camaras?

Cansado desta ‘perseguição’ pública, Adam Harvey desenvolveu uma forma de fugir às camaras de vigilância. ‘CV Dazzle’ é um projeto que permite a utilização de maquilhagem como camuflagem para as tecnologias de reconhecimento de rosto. Pode ser utilizado em qualquer ambiente que tenha sistemas de reconhecimento em funcionamento, incluindo plataformas com o Facebook. Harvey já colaborou com cabeleireiros, revistas como a DIS Magazine e artistas como Jillian Mayer e Bronwyn Lewis, que também disponibilizaram tutoriais e workshops sobre como esconder o rosto das câmaras.

Créditos: http://cvdazzle.com/

Créditos: http://cvdazzle.com/

Viver sob vigia

Existem muitos outros exemplos de artistas que desenvolvem trabalhos relacionados com as questões da vídeo vigilância, e que continuam a ser assunto de discussão. Em 2010, o próprio Museu de Arte Moderna de São Francisco organizou uma exposição, intitulada ‘Exposed: Voyeurism, Surveillance and the Camera Since 1870‘, que procurava demonstrar precisamente as diferenças entre ver e espiar, o ato privado e a imagem pública, com exemplos de trabalhos de fotografia, filme, vídeo tanto de artistas conhecidos como desconhecidos.

Os artistas são sem sombra de dúvida os mais capazes de atrair as atenções para um assunto ou problemática. Especialmente neste caso é importante tentar compreender esta variante de arte, para que se possam analisar e compreender também as questões centradas na transgressão da privacidade alheia.

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