Apropriar ou Inspirar? Fazer arte na internet, com auxilio da internet e para a internet.

Por esta altura, estamos todos completamente rendidos à internet e às suas possibilidades infinitas! Qualquer que seja a informação de que necessitamos, garantidamente encontraremos a resposta online.  Dúvidas numa data ou no nome de alguma personalidade? Perguntamos à internet. Falta de inspiração? A internet ajuda…

Já perceberam onde queremos chegar, certo? Estando a internet, literalmente, à distância de um clique, acessível a partir de qualquer dispositivo móvel, em qualquer local do mundo, como tem essa facilidade na partilha de informação influenciado os processos criativos dos artistas contemporâneos?

Obviamente que esta facilidade no acesso e difusão tem levado os artistas, que tanto querem inovar e experimentar coisas novas, a utilizar a internet não só como ferramenta, mas também como meio e até como fim. Exemplo disso são os movimentos artísticos como a Internet Art, New Media Art, Arte Digital, entre outros subgéneros.

Definir a privacidade não torna um item que está online menos público

É importante refletirmos sobre o facto de a internet ser um meio totalmente público, ou seja, tudo aquilo que colocamos online acaba por ficar disponível para qualquer pessoa no mundo aceder! Escusado será dizer que as redes sociais são o maior contributo para esta discussão, uma vez que, ainda que achemos que as nossas contas pessoais são seguras e totalmente controladas por nós, está comprovado que elas estão à disposição de qualquer indivíduo.

Créditos: observador.pt

Créditos: observador.pt

Imaginem-se a passear pela Frieze Art Fair, em Nova Iorque, e a depararem-se com uma fotografia de uma partilha do vosso Instagram pendurada numa parede. Foi exatamente isto que o artista Richard Prince fez, numa colecção a que chamou ‘New Portraits’. E Prince conseguiu vender algumas das fotografias desta exposição por 90.000 dólares! Racionalmente sabemos que isto viola, claramente, todas as leis de direito de autor só que, a partir do momento em que o delito sai da plataforma online, não há nada que o instagram possa fazer para proteger a privacidade dos seus utilizadores.  Para além disso, como o artista fez algumas alterações nas descrições, pode alegar que a imagem foi transformada e, por isso, não é uma cópia.

Se pensarmos bem na exposição de Richard Prince, podemos considerá-la como apropriacionismo (movimento artístico em que o artista se apropria de uma obra de arte já existente e torna-a sua, às vezes com algumas alterações, outras sem nenhuma), tal como fez Marcel Duchamp com a obra ‘L.H.O.O.Q.‘ (a sua própria Mona Lisa) ou Mike Bildo com as suas reproduções exactas de obras de Picasso. Este movimento, como facilmente se compreende, levantou uma série de problemas a alguns artistas, mas que rapidamente ficaram resolvidos porque, voltando ao mesmo argumento, a obra foi descontextualizada e transformada e, por isso, não pode ser considerada uma cópia.

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Créditos: theguardian.com

Voltando aos dias de hoje, é de facto preocupante, ou não, esta facilidade com que “transportamos” uma imagem que não é nossa para onde quisermos, tornando-a numa coisa nova. Na arte, começam a acontecer coisas incríveis (outras, nem tanto), graças às novas tecnologias e às possibilidades criadas pelo online. Obras sob a forma de gifs, robots que desenham sozinhos, exposições com fotografias do instagram… Todo este boom de desenvolvimento influencia a forma como os artistas trabalham, a maneira como procuram fazer o seu trabalho evoluir, e, sem qualquer possibilidade de desconexão, a própria reformulação do mercado artístico, que tem inovado os seus padrões para acolher esta nova forma de obras.

Escusado será dizer que a internet veio para ficar e que, com o passar do tempo, só pode melhorar, tornando coisas que agora nos parecem impossíveis em realidades banais. O que faríamos nós sem ela? Sem a internet não havia este artigo e, claro, não havia a shair. Na nossa plataforma não temos muitos casos de apropriacionismo, mas temos artistas que tiram proveito das novas tecnologias para desenvolver os seus trabalhos e temos, com toda a certeza, artistas que usam a internet para a tal procura de inspiração.

Créditos: theatlantic.com

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