Há pelo menos duas formas de fazer POESIA.
Com o TEXTO, verbal ou escrito, que leva a poesia nas folhas do vento ou do livro.
Com a TEXTURA, do barro ou da tela, que a prende na massa, ou entre os fios da tela.

A poesia de MARIA HELENA CARDOSO é feita de ambos. Constrói os fios do TEXTIL como se fossem os eixos de um TEXTO. Constrói-se a tela no tear, um longo fio. Da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, como se fossem as linhas horizontais de um discurso. Palavra após palavra, sequencialmente. Só depois chegam os segundos fios. São eles que seguram o primeiro, mas mal se veem: andam por cima e por baixo, revelam e escondem, forçam a ler as entrelinhas. Dão consistência ao que é visível tornando-se invisíveis.
Talvez haja só uma forma de fazer POESIA.

MARIA LUÍSA MALATO (Universidade do Porto)