Há na obra de Fernando Marques de Oliveira (n.1947) a dualidade do espaço de observação da arquitetura, do urbanismo e das formas de cidade com a delicadeza de uma pintura fina e de firmes formas. Em 2017, após um período de afastamento do mercado da arte, apenas interrompido com a exposição na Galeria Pedro Oliveira, em 2012, o artista surge-nos, de novo, na cidade invicta (que na década de 1980 assistiu ao seu arranque fulguroso), com os seus espaços invisíveis repostos numa exposição que incluiu o Museu Nacional Soares dos Reis, a Cooperativa Árvore e o lançamento de um extenso catálogo. Fernando Marques de Oliveira tem um percurso e uma história e, ainda que se tenha afastado do circuito, manteve, de forma incessante e obstinada, a sua atividade como pintor. Os trabalhos em mostra online são exemplo disso mesmo, ainda que nos revelem um artista mais afastado do neoexpressionismo e do gestualismo de raiz anglo-saxónica, para o aproximarem da mimética da geometria, da poesia e da música enquanto contextos de criação e cenários de reclusão em atelier. O artista, que vive sobre o mar, olha com detalhe o construído e decalca para o suporte, em desconstrução da imagem pela linha e pelo plano, a relação de formas naturais e humanas do seu contexto. São jogos simples e belos em que a cor dá unidade de série e diferencia espaços e tempos criativos. Fernando Marques de Oliveira é um consagrado, dispensa apresentações. O meio conhece-o e reconhece-o, não só como artista, como também como divulgador e dinamizador cultural, como homem de bom gosto e bom trato. O seu jeito clássico está na sua produção artística que se mantém fiel a uma ideia e a um princípio de novidade. É preciso pintar, criar sempre, abraçar o novo e o futuro, dir-se-ia. E nestes seus espaços invisíveis pode não só dizer-se, como afirmar-se.

Helena Mendes Pereira

Curadora da shairart

Comments

comments