Conversa_d'Artista

Não fosse por moda do entrudo e da cultura pop ser o tema da grande festa da cidade em 2017, ou não haveria correlação entre a obra de Nuno Raminhos (n. 1971) e a temática do museu em que se apresenta esta exposição.

Contudo, no campo da produção artística contemporânea, as relações não têm que ser óbvias para existirem. O Vale do Ave tem, desde meados do século XIX, na indústria têxtil o seu oxigénio e o seu motor de desenvolvimento. É sua raiz identitária. Nas, talvez, centenas de empresas que povoaram o território ao longo de mais de século meio, há estórias de famílias inteiras, de vidas completas, de gerações. Não foi só na última década que o sector, um dos que mais contribui para o PIB nacional, passou por crises, sendo obrigado a reorganizar-se e a combater os dramas sociais e humanos que essas reformulações obrigaram.

Apesar dos pesares, com o reforço de competências como a criatividade e a inovação – das quais a Arte foi sempre precursora – o sector subsiste e persiste, mantendo a vitalidade da região, permanecendo como sua essência e não apenas como memória longínqua do tempo que passou. O sucesso, ainda que não sem dificuldades, deve-se a um conjunto de super-heróis, verdadeiros super-heróis, que vão dos trabalhadores aos empresários, às comunidades e cidades em que se inserem e que têm sido capazes de fazer a leitura do esforço de cada um para a construção de um futuro que é de todos.

Os super-heróis de Nuno Raminhos, cujas indumentárias poderiam ter sido imaginadas e confecionadas por qualquer um destes agentes criativos da indústria têxtil, não são reais mas têm características dos seres reais do nosso quotidiano. As gentes do têxtil emprestam, diariamente, inspiração à ficção pop do nosso tempo.Nuno Raminhos, no seu desenho exímio e paleta de cor plana, soma aos seus super-heróis conotação e iconografia com mensagem política, recuperando o espírito da Pop Art de Andy Warhol (1928-1987) ou de Robert Rauschenberg (1925-2008). Esta exposição é, por isso, uma viagem ao universo animado da cultura pop mas, também, uma proposta de reflexão sobre os super-heróis do nosso contemporâneo, carente do elogio a todos os anónimos que, todos os dias, tornam melhor e possível o cumprimento das nossas necessidades mais básicas de consumo.

Helena Pereira
Chief Curator da shairart

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