ARQUITETURA(S) NUM MOMENTO é uma mostra no âmbito da parceria entre a, agora, zet gallery e o Santa Luzia ArtHotel, dois projetos unidos pelo território e pela missão de apoio à criação artística original. A arquitetura do local de acolhimento, situado em pleno Centro Histórico de Guimarães, é um dos seus muitos pontos de interesse, tendo-se tornado num espaço de culto para os amantes desta expressão artística.
Os espaços hoteleiros caracterizam-se pela fugacidade com que os frequentamos. O tempo e o espaço são as suas condições e são eles que determinam a nossa experiência e as nossas memórias. São momentos aos quais quisemos somar motivos de visita e de contacto com a Arte e tudo o que ela traz do contexto sociocultural, desafiando, precisamente, dois jovens arquitetos, formados na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, que também desenvolvem atividade como artistas visuais, partindo das suas formas de ver o espaço e o tempo (através da fotografia e da ilustração).

André Castanho Correia (1988) e Florisa Novo Rodrigues (1991) são os protagonistas desta mostra, com curadoria de Helena Mendes Pereira, que escolhe duas linguagens geracionais e duas formas de olhar o edificado, diversificando-se, contudo, o quadro referencial intelectual e visual de cada um dos protagonistas e as suas visões sobre o mundo. A de André Castanho Correia é profundamente interventiva do ponto de vista da mensagem política e a de Florisa Novo Rodrigues pertence ao domínio da imaginação e dos desejos, de perspetiva histórica e voltando a um tempo que a autora prefere e que nos faz recuar décadas até aos primeiros dias da emergência da dita cultura de massas.

André Castanho Correia cria, através da fotografia, um circuito internacional de bairros sociais na sua maioria em processos de demolição, abandono e/ou requalificação. A par do registo de paisagens urbanas e outras em estados de transição, o autor procura refletir sobre a configuração espacial e estado de conservação de diferentes áreas de habitação social e retrata três contextos locais (Enguardas, Santa Tecla e Picoto, em Braga), um nacional (Bairro 6 de Maio, Amadora) e um internacional (Robin Hood Gardens, Londres), mostrando, através dos quadros imagéticos, que existem nações sem território.

A arquitetura é a maior fonte de inspiração para os cenários criados nas ilustrações de Florisa Novo Rodrigues, em que se combina a colagem (física e não digital) e o desenho de traço, simultaneamente, rigoroso e delicado. No conjunto de obras que pertencem à série “Ensaio nº1: Histórias de automóveis e satélites”, a artista “parte da apresentação do espaço até às suas personagens, tendo como pano de fundo o imaginário de cada espectador. Desta forma, cada obra será apreendida de forma singular, absorvendo o universo individual de cada um”, recorrendo às suas próprias palavras. Trata-se de uma exploração do desenho como ferramenta ativa no processo de criação de um imaginário, mantendo-se a construção de um imaginário cinematográfico e que integra o repertório sonhado de cada um de nós.

Helena Mendes Pereira

chief curator da zet gallery

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