As aquarelas de Joaquim Marques convidam à contemplação, evocando um imaginário onírico que, por vezes, remete a uma estética oriental. Gosta de trabalhar sobre papéis de grande formato deitados no chão, usando esfregona e espanador para colocar água e tinta. Ao andar em cima ...
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As aquarelas de Joaquim Marques convidam à contemplação, evocando um imaginário onírico que, por vezes, remete a uma estética oriental. Gosta de trabalhar sobre papéis de grande formato deitados no chão, usando esfregona e espanador para colocar água e tinta. Ao andar em cima do papel ainda molhado posso observar e sentir a imagem a surgir debaixo dos meus pés no papel ainda molhado.
Na aquarela interessa-lhe a imprevisibilidade e a aleatoriedade da água como geradora de memórias fictícias de paisagens. Com o passar do tempo, memórias tendem a esvanecer. É nesse momento de transformação, quando a nitidez das lembranças se perde irremediavelmente, que elas adquirem uma nova qualidade. A volatilidade da água transforma manchas esbatidas em imagens poéticas da Natureza e permite deixar espaços brancos no papel como se de falhas de memória se tratasse. A aquarela é, parafraseando o escritor Guimarães Rosa e segundo o artista, "trabalhar a memória no seu estado sólido, líquido e gasoso".