As minhas aguarelas convidam à contemplação, evocando um imaginário onírico que, por vezes, remete a uma estética oriental. Gosto de trabalhar sobre papéis de grande formato deitados no chão, usando esfregona e espanador para colocar água e tinta. Ao andar em cima do papel ain...
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As minhas aguarelas convidam à contemplação, evocando um imaginário onírico que, por vezes, remete a uma estética oriental. Gosto de trabalhar sobre papéis de grande formato deitados no chão, usando esfregona e espanador para colocar água e tinta. Ao andar em cima do papel ainda molhado posso observar e sentir a imagem a surgir debaixo dos meus pés no papel ainda molhado. Tempo e espaço diluem-se.
Na aguarela interessa-me a imprevisibilidade e a aleatoriedade da água como geradora de memórias fictícias de paisagens. Com o passar do tempo, memórias tendem a esvanecer. É nesse momento de transformação, quando a nitidez das lembranças se perde irremediavelmente, que elas adquirem uma nova qualidade. A volatilidade da água transforma manchas esbatidas em imagens poéticas da Natureza e permite deixar espaços brancos no papel como se de falhas de memória se tratasse. A aguarela é, parafraseando o escritor Guimarães Rosa, trabalhar a memória no seu estado sólido, líquido e gasoso.